No dia 2 de janeiro de 2011 foi
comemorado, pela primeira vez, o Dia Mundial dos Introvertidos. Uma iniciativa
bacana e que vale a pena passar para a frente. Mesmo que na agenda política,
social e ecológica possam existir questões muito mais urgentes, é sempre bom
aproveitar toda e qualquer possibilidade para sairmos da casinha de nossas
cabeças e tentar ver o mundo pelos olhos do outro - inclusive quando esse outro
é uma pessoa introvertida que está mais ou menos tragicamente perdida em um mundo
feito para extrovertidos.
Introversão é diferente de timidez (não obstante a
reação intransigente das pessoas que cercam o introvertido possam colaborar
para desenvolver um quadro de timidez ou mesmo outros problemas mais sérios,
como a depressão). De acordo com o dicionário, e referenciando Carl Jung,
introversão é "orientação predominante da energia psíquica para o interior
do próprio sujeito". Ou, traduzindo em miúdos, alguém que fica ruminando
as ideias, observando o mundo a sua volta e cultivando o silêncio, mas faz isso
com uma intensidade um pouco acima da média. Mas e por que é que é importante
um dia dos introvertidos? Qual a validade de uma data para pensar na
introversão? Para aqueles que nasceram do lado de lá desse rio chamado 'vida
social' (ah, seus extrovertidos faladores e socializadores!), aqui ficam
algumas razões.
Sim, o mundo é feito
(também) por introvertidos! Porque ser quieto e apreciar a solitude (que é a
solidão gostosa, produtiva e voluntária) não deve transformar ninguém em esquisitão
ou doente. Porque preferir a tranquilidade e o silêncio ao invés da muvuca e do
falatório não deve significar que esse alguém é antissocial, antipático, ou que
detesta as pessoas - geralmente nós, introvertidos, como qualquer outra pessoa,
só detestamos aquelas pessoas que já são detestáveis.
Porque ter dificuldades e
resistências a festas, confraternizações e outras situações sociais em que
reina a conversa mole e fiada não deve ser motivo para esse alguém ter de ouvir
'por que você é tão quieto?', 'você deveria falar mais!', 'não seja tão
sério!', 'se solte!', ou, o pior de todos, 'saia do seu casco!' - não temos
casco, mas se tivéssemos consideraríamos seriamente permanecer dentro dele se
isto significasse sermos poupados deste tipo de comentário-cobrança. E, aliás,
porque não gostar de, ou não conseguir ter, conversas moles (especialmente com
quem não conhecemos direito) não significa não gostar de, ou não conseguir,
conversar.
Porque assim como tem pessoas que
necessitam absurdamente estar no meio de outras pessoas e fazendo coisas com
outras pessoas (juro que não entendo como as pessoas sacrificam de boa vontade
seus finais de semana em eventos coletivos e barulhentos, mas ok, aceito isso),
há quem precise urgentemente, de tempo em tempo, meter as caras num livro,
filme, jogos ou qualquer outra coisa que possa ser feita sozinho (e se você não
entende isso, não custa aceitar, certo?). E finalmente, porque pessoas
introvertidas não são menos por serem introvertidas - que o diga Einstein,
Darwin, Nietzsche, Bill Gates e tantos outros nomes de nossa História,
inclusive atores e políticos. Hoje, Dia Mundial dos Introvertidos, caso não
seja um deles, faça apenas um pequeno exercício: antes de rotular de
arrogância, grosseria ou antipatia o silêncio de alguém, pense que esse alguém
pode ser um introvertido curtindo um maluco e intenso mundo interior de ideias
e observações. E dica bônus: se você tiver paciência e empatia, pode até ser
convidado a conhecer, num relato de primeira mão, esse maluco e intenso mundo
interior. À Academia Brasileira de Letras: produção do César
http://cocotidiano.blogspot.com.br/2015/01/o-dia-mundial-dos-introvertidos.html
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