Hoje
(13) é o Dia Mundial de Conscientização e Combate à Trombose. A data foi
instituída pela Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia, com o
objetivo de alertar sobre riscos e formas de prevenção, bem como esclarecer a
população sobre uma doença que, embora recorrente, é cercada por dúvidas e até
mitos. Para Gutemberg Gurgel, presidente do Congresso Brasileiro de Angiologia
e Cirurgia Vascular 2017, para evitar a doença ou atacá-la é preciso, em
primeiro lugar, diferenciar os dois tipos de trombose existentes: a arterial e
a venosa. Ambas resultam da coagulação imprevista do sangue.
Quando isso na
artéria, ocorre a trombose arterial. Quando na veia, dá origem à Trombose
Venosa Profunda (TVP). No primeiro caso, a existência de um coágulo impede a
passagem do sangue para os tecidos e, consequentemente, causa inchaço e dor na
região afetada. Mais difícil de tratar, em geral é atacada por meio de
cirurgia. Se não tratada, pode levar à gangrena dos tecidos e até a amputação
do membro. Idosos, fumantes e diabéticos são os mais afetados. A das veias, em
90% dos casos, atinge vasos na perna, segundo a Sociedade Brasileira de
Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV). A organização alerta que ela pode causar
embolia pulmonar e até óbito, por isso exige muita atenção e cuidado.
Ela
também pode ocorrer associadas a cirurgias de médio e grande portes,
traumatismo, gestação ou outras situações que obriguem a uma imobilização
prolongada. Pessoas com idade avançada, dificuldades de coagulação,
insuficiência cardíaca, obesas, fumantes e adeptas de usam anticoncepcionais ou
tratamento hormonal são as que correm maior risco de desenvolver a doença.A
Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que as doenças cardiovasculares são a
principal causa de morte prevenível em todo mundo. Entre elas, têm destaque o
Acidente Vascular Cerebral (AVC) e o Tromboembolismo (TEV). No Brasil, em 2016,
o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou 35.598 tratamentos clínicos em decorrência
da trombose. Entre janeiro e julho deste ano, foram 16.923, segundo o
Ministério da Saúde. O órgão registra 485.443 procedimentos de fisioterapia,
sendo mais de 330 mil no ano passado e 155 mil neste ano.
Mitos
e verdades
Cigarro
e anticoncepcional causam trombose? Idosos não podem fazer viagens longas? São
muitas as dúvidas que cercam a doença. A Agência Brasil questionou o médico
Gutemberg Gurgel para esclarecer algumas delas.
Anticoncepcional
e cigarro
Apontada
como grande fator de risco para a ocorrência de trombose entre as mulheres, a
combinação de cigarro e pílula, de fato, pode favorecer a ocorrência da doença.
Isso porque o cigarro é um vasodilatador, ao passo que o hormônio provoca
alterações nas paredes das veias, diminuindo a velocidade da circulação. O
resultado não é necessariamente o trombo, mas pode ocorrer, especialmente, se
associado a outros fatores de risco, como obesidade, tendência familiar e vida
sedentária. Por isso, o médico alerta sobre o uso precoce de anticoncepcionais,
que têm sido indicados para tratamento de pele de adolescentes, por exemplo, e
recomenda evitar o tabagismo.
Gravidez
Mulheres
grávidas também devem ficar atentas. A maior quantidade de hormônios femininos
circulando no corpo pode desencadear aumento da coagulação. Além disso, o
médico explica que o aumento do útero promove a contração dos vasos pélvicos,
dificultando o retorno do sangue. Mais uma vez, os casos são mais recorrentes
em pacientes que possuem tendência à coagulação. Como forma de prevenir problemas,
além do uso de meias de compressão, Gurgel destaca a importância da prática de
atividades físicas especialmente no caso das mulheres grávidas e também de
pessoas que vão passar períodos longos com dificuldades de se movimentar, o que
ocorre, por exemplo, durante viagens. “É importante usar as meias e buscar
caminhar um pouco, pelo menos, a cada duas horas”, explica. Contrair o músculo
da panturrilha e colocar o pé no chão também podem ajudar. Em todos os casos,
destaca: é preciso tomar água e evitar a desidratação, sobretudo em ambientes
fechados e refrigerados por ar-condicionado.
Cirurgias
Em
cirurgias e no pós-operatório, o médico explica que há protocolos sobre o uso
prévio ou posterior de medicação específica. A situação é delicada, pois
envolve risco de hemorragia. Mas, segundo ele, novos medicamentos têm sido
desenvolvidos para facilitar o uso, inclusive por via oral, sem necessidade de
injeção, o que garante maior segurança ao diminuir o risco de sangramento.
Diagnóstico
e tratamento
Gutemberg Gurgel alerta
que a TVP é, em geral, assintomática, o que dificulta o diagnóstico. Para
evitar surpresas, ele indica que pessoas afetadas pelos fatores de risco
busquem pesquisar a situação da circulação sanguínea do corpo, pois a presença
de alguma anormalidade genética pode ser decisiva. Outra sugestão é atentar
para o aparecimento de edemas, sobretudo quando surgem sem serem precedidos por
pancadas e acompanhados por dor ao caminhar.
O jornalista Daniel Fonsêca, 34
anos, sofreu trombose após passar alguns dias imobilizado em um hospital, em
decorrência de um trauma. Os primeiros sintomas foram dores fortes, que foram
inicialmente identificadas como resultado de alguma distensão muscular. A
permanência o levou a realizar o exame ecodoppler, que permite a análise do
sistema venoso. Foram constatadas, então, não apenas a existência de trombo,
mas até o risco iminente da perda das duas pernas. Submetido à medicação
anticoagulante logo após o diagnóstico, escapou de ter sequelas graves, mas
passou meses tomando remédios e com dificuldades para dirigir ou até caminhar
devido às dores.nSuperada a fase mais difícil, foi preciso mudar hábitos e
adotar medidas preventivas.
Como o anticoagulante gera riscos de hemorragias,
após o trauma passou a ampliar o cuidado para evitar acidentes, como andar de
bicicleta ou utilizar instrumento cortantes. Meia hora antes de viagens com
pelo menos três horas de duração, injetava medicação intravenosa no ambulatório
do próprio aeroporto. Além disso, passou a utilizar meias elásticas de alta
compressão. À época, Daniel tinha 23 anos e não escapou do preconceito.“Muitas
vezes eu relativizei e negligenciei o uso das meias por causa da questão
estética. Passava dois, três meses sem usar por conta do preconceito que
existe, ainda mais quando se é jovem”, conta. As meias são fundamentais para
tratar ou prevenir problemas circulatórios em geral, mas a dificuldade para
ampliar o uso delas não é só estética. O par, segundo o jornalista, custa entre
R$ 160 e R$ 200 e dura apenas seis meses. “Isso é muito relevante, porque
grande parte das pessoas que sofrem trombose nos membros inferiores são da
população pobre. Gente que trabalha muito em pé ou sentado e não tem chance de
prevenção”, como motoristas de ônibus, lavadeiras ou vendedores, alerta.
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-10/dia-mundial-de-combate-trombose-saiba-o-que-e-mito-ou-verdade-sobre-doenca
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