A
importância da conservação do ecossistema marinho e de toda a sua
biodiversidade é ressaltada em 8 de junho, Dia Mundial dos Oceanos. Em
celebração a essa data, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza
relembra algumas de suas contribuições para a conservação da biodiversidade
costeira e oceânica. Por exemplo, a instituição apoiou 193 iniciativas de
conservação no ecossistema marinho que, entre outros resultados, geraram a
descrição de três novas espécies para a ciência, como o polvo Octopus insularis.
Esse molusco foi identificado pela bióloga e oceanógrafa Tatiana Silva Leite,
em 2002, enquanto ela estudava para seu mestrado a fauna de polvos do litoral
do Rio Grande do Norte e de ilhas oceânicas brasileiras. “Naquela época, o
animal era classificado como Octopus vulgaris (comum no litoral sudeste do
Brasil e em outras partes do mundo), mas ao longo dos estudos percebemos que se
tratava de uma espécie diferente”, explica Leite.
Em 2003, ela iniciou junto
com seu doutorado um projeto apoiado pela Fundação Grupo Boticário, para
estudar melhor essa espécie e gerar subsídios para comprovar que ela realmente
era nova para a ciência. O reconhecimento oficial do animal aconteceu em 2008. O
projeto apoiado pela Fundação Grupo Boticário foi realizado no Arquipélago de
Fernando de Noronha (PE) e estudou as características gerais da espécie, como
população, área de ocorrência e importância ecológica do polvo mais abundante
na região. Além disso, foi analisada como a atividade pesqueira impacta esse
molusco e o ecossistema marinho no arquipélago. Os resultados da pesquisa
subsidiaram a criação de um plano de manejo – o primeiro para polvos do Brasil
dentro de uma área protegida – visando à conservação do Octopus insularis, bem
como sua exploração racional e sustentável. Embora esse molusco seja abundante
no arquipélago, sua pesca é permitida apenas na Área de Proteção Ambiental
(APA) de Fernando de Noronha – parcela que correspondente a 30% do conjunto de
ilhas.
Os animais capturados são
utilizados tanto na alimentação familiar quanto para comercialização. Porém,
para garantir a manutenção desse estoque, o plano de manejo da espécie
regulamentou a atividade pesqueira visando à redução de seus impactos ao meio
ambiente. Entre as principais orientações do documento estão: a permissão
apenas da pesca artesanal e para pescadores nativos ou residentes há mais de
dez anos; a captura somente de indivíduos da espécie com no mínimo 80 mm de
comprimento do manto (da ponta do capuz até os olhos); a proteção das áreas com
menos de dois metros de profundidade – utilizadas como berçários; e a proibição
de pesca por meio de armadilhas na água. Para garantir que as recomendações do
plano de manejo estão sendo realizadas, anualmente é realizado monitoramento da
espécie em todo o arquipélago. “Por meio dos dados extraídos nos
monitoramentos, constatamos que o manejo da espécie está obtendo sucesso. A
própria comunidade pesqueira nos auxilia na conservação do polvo, com a prática
da pesca responsável e a manutenção do cadastro atualizado dos pescadores”,
conta a pesquisadora.
O
Octopus insularis
O polvo Octopus
insularis é endêmico do Brasil, ocorrendo do Pará até o sul da Bahia e em todas
as ilhas oceânicas brasileiras. Na maior parte do tempo, habita tocas e corais
em águas rasas, em uma profundidade que varia entre zero e 25 metros.
Alimenta-se geralmente de crustáceos presentes nessas tocas e corais. Seu tamanho médio é de nove centímetros de
comprimento de manto, porém já foram avistados indivíduos maiores, de até 15 cm
de manto, que chegam a ter quase um metro de comprimento total e 2,5 kg de
peso. Em relação à reprodução desse molusco, observou-se durante a pesquisa que
casais adultos de polvos ocupavam tocas próximas por mais de cinco dias.
“Essa
observação sustenta a hipótese de que os indivíduos dessa espécie, quando em
período reprodutivo, aproximam-se e permanecem juntos por mais tempo além da
cópula”, aspecto novo para os polvos e que ainda necessita ser melhor
estudado, afirma Leite.
http://www.fundacaogrupoboticario.org.br/pt/noticias/pages/polvo-e-descrito-em-iniciativa-apoiada-pela-fundacao.aspx
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