Como no resto do mercado de trabalho, ser homem é um fator preditivo positivo para avançar mais rápido na carreira e também para tornar-se o Pesquisador Principal de estudos, mesmo corrigindo de acordo com vieses, como publicações realizadas – alcançando, assim, salários mais altos que as mulheres. Foram notadas também diferenças de gênero, com viés positivo para os homens, na probabilidade de contratação, salários iniciais mais altos e fundos de pesquisa. Um estudo descreveu o “Efeito Matilda”, em que autoras mulheres são associadas com menor qualidade percebida e interesse pela publicação, em relação à autoria masculina. Mulheres têm maior probabilidade de passar por interrupções na carreira e deixar a vida acadêmica por fatores pessoais, como licença-maternidade. Talvez por isso, pesquisadoras especializam-se menos que pesquisadores, podendo esse ser um fator que leva à menor produtividade e progressão na carreira.
Nesse sentido, a Elsevier lançou em 2017 o relatório “Gender in the Global Research Landscape”, um panorama da pesquisa mundial ao longo de 20 anos, em 12 países e regiões. Percebe-se que em 9 dessas regiões (EUA, União Européia, Reino Unido, Canadá, Austrália, França, Brasil, Dinamarca, Portugal), entre 2011 e 2015, mais de 40% dos pesquisadores eram mulheres, o que representa uma melhora do cenário em 1996-2000, onde tal cifra só era realidade em Portugal. Entretanto, a representatividade feminina varia muito de acordo com o campo de pesquisa: mulheres estão mais presentes em ciências biológicas e da saúde, mas são raras nas ciências físicas, da computação e matemáticas, relacionadas com a criação de tecnologias. Em decorrência, apenas 14% de aplicações para patente envolviam uma inventora entre 2011 e 2015 – entre 1996 e 2000, somente 10% dos pedidos de patente envolviam mulheres entre os solicitantes. Outra informação interessante é que mulheres, apesar de colaborarem mais que homens domesticamente, envolvem-se menos em colaborações internacionais, e deslocam-se menos em viagens para trabalhar em suas pesquisas – apesar de as citações de maior impacto geralmente se relacionarem com pesquisadores “transitórios”, aqueles que trabalham internacionalmente por um período menor que 2 anos. Por outro lado, pesquisas sobre gênero têm crescido na última década. Tópicos como feminismo, estereotipia de gênero, identidade de gênero, têm sido mais frequentemente citados em publicações. Na verdade, a pesquisa em gênero tem crescido mais rápido que a pesquisa científica como um todo.
Referências:
1 – Revista Mulheres na Ciência. British Council, 1, 2019: https://www.britishcouncil.org.br/sites/default/files/d1_revista.pdf
2 – Gender in the Global Research Landscape. Elsevier, 2017:
https://www.elsevier.com/__data/assets/pdf_file/0008/265661/ElsevierGenderReport_final_for-web.pdf
3 – Demografia Médica no Brasil 2018: http://www.epsjv.fiocruz.br/sites/default/files/files/DemografiaMedica2018%20(3).pdf
4 – Mulheres na Ciência. Cadernos de Saúde Pública, 2018:
http://www.scielo.br/pdf/csp/v34n10/1678-4464-csp-34-10-e00173718.pdf
5 – Mulheres e ciência: uma história necessária. Estudos
Feministas, 2006: http://www.scielo.br/pdf/ref/v14n3/a14v14n3.pdf
https://www.sbmfc.org.br/noticias/11-de-fevereiro-dia-internacional-das-mulheres-e-meninas-na-ciencia/
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