Com 70 anos de carreira, a atriz era uma das mais queridas pelo público no País, partiu hoje (15/05) após uma luta contra um câncer de ovário.
A atriz Eva Wilma morreu neste
sábado (15/5), aos 87 anos, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São
Paulo, em decorrência de um câncer no ovário. Ela estava internada desde o dia
15 de abril, inicialmente para tratar problemas cardíacos e renais, tendo
descoberto o câncer apenas há 10 dias.
Uma das atrizes mais queridas da
TV brasileira, ela completou 70 anos de carreira em setembro passado.
A longa jornada artística começou
no início dos anos 1950, após chamar a atenção como bailarina clássica e atuar
no Teatro de Arena. Sua primeira aparição nas telas foi em 1953, aos 20 anos,
como estrela da série "Alô, Doçura", inspirada no popular seriado
americano "I Love Lucy", que era encenada ao vivo na TV Tupi. A
atração, que ficou uma década no ar, era coestrelada por John Herbert, com quem
a atriz se casou em 1955.
Eva também começou a aparecer no
cinema em 1953, a princípio como figurante em comédias da Vera Cruz e da
Multifilmes, mas já em dezembro daquele ano foi escalada em seu primeiro papel
romântico, em "O Craque", de José Carlos Burle. Mesmo assim, só virou
uma estrela de cinema de primeira grandeza a partir de 1960. Começando por
"Cidade Ameaçada" (1960), de Roberto Farias, ela se notabilizou em
clássicos de temática urbana, como "O 5º Poder" (1962), de Alberto
Pieralisi, "A Ilha" (1963), de Walter Hugo Khouri, e "São Paulo
SA" (1965), de Luiz Sérgio Person.
A Record a escalou em sua
primeira novela em 1964, "Prisioneiro de um Sonho", em que ela
interpretou três papéis diferentes. Não foi a única vez que demonstrou seu
talento com múltiplos personagens. Nove anos depois, ela estrelou a primeira
versão de "Mulheres de Areia" (1973), em que viveu as famosas gêmeas
Ruth e Raquel, na Tupi.
De fato, bastou a primeira novela
para Eva se tornar rainha do gênero, estrelando uma, às vezes até duas novelas
por ano, quase interruptamente até os anos 2000. Um de seus desempenhos mais
longos, "As Confissões de Penélope", em que viveu a personagem-título
ao lado do marido, durou quase um ano inteiro na Tupi, entre 1969 e 1970.
Principal artista da Tupi, ela
protagonizou os maiores lançamentos do canal durante a década de 1970 -
incluindo ainda "A Revolta dos Anjos" (1972), "Barba Azul"
(1974), "A Viagem" (1975), "Roda de Fogo" (1978) e "O
Direito de Nascer" (1979).
Engajada politicamente, também
desafiou a ditadura militar, ao participar da histórica Marcha dos Cem Mil em
1968, e jamais deixou o teatro, fazendo várias peças entre as novelas.
O fim da Tupi aconteceu junto com
o fim de seu casamento e um breve retorno ao cinema com "Asa Branca: Um
Sonho Brasileiro" (1980).
Mas as mudanças no cotidiano não
diminuíram seu ritmo. Eva se casou com outro ator, Carlos Zara (1930-2002), e
trocou de canal. Sem perder um ano sequer fora das telas, estreou na Globo em
1980, com "Plumas & Paetês", e não saiu mais. Emplacou um sucesso
atrás do outro, marcando época com personagens como a Marquesa D'Anjou, de
"Que Rei Sou Eu?" (1989), e a inesquecível vilã Altiva, com seu
sotaque nordestino misturado com inglês na fictícia Greenville de "A
Indomada" (1997).
O maior hiato noveleiro de sua
carreira foram os três anos que separaram "Fina Estampa", em 2012, de
"Verdades Secretas", em 2015, mesmo período que a Globo demorou para
chamá-la de volta para uma pequena participação em "O Tempo Não
Para", onde viveu Petra Vaisánen, seu último papel no canal em 2018.
Apesar de afastada da telinha,
ela não parou. Em setembro, aderiu às lives, apresentando-se dentro de casa com
o espetáculo virtual "Eva, a live", transmitido no YouTube e no Instagram.
Mesmo após ser internada, em abril, ainda gravou uma narração para um filme
inédito, "As Aparecidas", de Ivan Feijó, que ainda não tem previsão
de lançamento.
"Nossa querida Vivinha
recebe o derradeiro aplauso, tenho certeza, de todos os profissionais que
tiveram o privilégio e a honra de trabalhar com ela", escreveu Miguel
Falabella, num belo tributo nas redes sociais, evocando seu primeiro trabalho
profissional com o diva.
"A primeira cena que dirigi,
na TV Globo, foi com ela e Carlos Zara", continuou. "Eu estava muito
nervoso, era uma externa noturna complicada, com grua, carrinho e uma grande
equipe à espera das decisões e dos planos do diretor. Quanta gentileza e
generosidade recebi dessa querida colega! Gravamos, no final, uma linda cena e
ela me disse que eu jamais me esqueceria de que ela tinha sido a primeira atriz
que eu dirigira na televisão. Como poderia eu esquecer? Se as noites na Ilha do
Governador eram preenchidas por seu talento nas inesquecíveis tramas da Tupi,
onde ela reinou por anos, antes de mudar-se para a Globo. Como esquecer de tão
brilhante carreira nos palcos e na tela? Estou com o coração partido e os olhos
molhados. Mas estou de pé. E daqui, Eva querida, calejo as minhas mãos num
eterno e interminável aplauso. Brava!".
Eva Wilma Riefle, atriz que
entrou para o imaginário do espectador brasileiro de cinema, teatro e televisão
simplesmente como Eva Wilma. Seu pai (Otto Riefe Jr.) era um metalúrgico alemão
da região da Floresta Negra que veio para o Brasil, mais exatamente para o Rio
de Janeiro, em 1929, aos 19 anos, para trabalhar numa firma de metalurgia.[2] A
mãe, Luísa Carp, nasceu em Buenos Aires, filha de judeus ucranianos de Kiev que
imigraram para a Argentina. Estava escrito que os dois se conheceriam em São
Paulo[2], e foi onde Eva Wilma nasceu, em 14 de dezembro de 1933.
Apesar das dificuldades familiares - o pai quase foi preso durante a 2ª Grande Guerra e, na sequência, foi diagnosticado com mal de Parkinson -, recebeu educação esmerada, em escolas tradicionais. Teve aulas de canto, piano e violão com a mestra Inezita Barroso. Aos 14 anos, iniciou-se na carreira artística como bailarina clássica. No Corpo de Balé do Teatro Municipal chamou a atenção do diretor José Renato, que a chamou para integrar a primeira turma dso Teatro de Arena. Participou de espetáculos quer fizeram história - Judas em Sábado de Aleluia, Uma Mulher e Três Palhaços.
Diversificou-se, como mulher e
atriz, e fez Boeing-Boeing, O Santo Inquérito, A Megera Domada, Black-Out. Os
desafios foram ficando maiores - Um Bonde Chamado Desejo, Pulzt, Esperando
Godot, dirigiu Os Rapazes da Banda, depois participou de Quando o Coração
Floresce, Queridinha Mamãe, pela qual recebeu o primeiro Molière de Melhor
Atriz, e O Manifesto. No cinema, começou como figurante em Uma Pulga na
Balança, na Vera Cruz. Logo estava protagonizando filmes ao lado de Procópio
Ferreira - O Homem dos Papagaios e A Sogra. Em 1955, ganhou o primeiro prêmio
de cinema por O Craque, de José Carlos Burle. No ano seguinte, a cinebiografia
de Francisco Alves, Chico Viola não Morreu, valeu-lhe o premio Saci, do Estado.
E logo vieram os grandes filmes que pertencem à história - Cidade Ameaçada, de
Roberto Farias, e São Paulo S.A., de Luiz Sergio Person.
Em 1953, a TV engatinhava quando
Cassiano Gabus Mendes convidou-a para atuar no seriado Namorados de São Paulo,
da Tupi, formando dupla com Mário Sérgio. Mudaram o ator e o nome do programa -
virou Alô Doçura e Eva Wilma passou a contracenar com John Herbert. Casaram-se,
tiveram dois filhos e o programa ficou dez anos no ar, entrando para o Guinness
como a série mais longeva da televisão brasileira. Alô Doçura foi um marco.
Naquele tempos, anos 1950 e 60, não se falava em sitcom, mas todo mundo seguia
o casal da ficção, que virou casal da vida real. Cokm o fim da Tupi, Eva Wilma
foi para a Globo. Mais prêmios, muitos prêmios. Eva Wilma ganhou todos. Se você
fizer uma pesquisa no Google, é capaz de não acreditar na quantidade de prêmios
que ela recebeu - Molière, Imprensa, APCA, Coruja de Ouro, Governador do
Estado, Shell etc.
E não apenas no País. Recebeu uma
homenagem em Cuba em 1966 pela atuação em O Amor Tem Cara de Mulher da TV Tupi;
outra homenagem pela atuação no filme A Ilha, de Walter Hugo Khouri, no
Festival de Berlim; e no Festival de Roma foi destaque pelo júri popular, no
filme de Alberto Pieralisi, O Quinto Poder. Em 1969, ocorreu o episódio talvez
mais bizarro da trajetória de Eva Wilma. Ela foi convidada para fazer um teste
em Hollywood para o que seria o novo suspense do mestre Alfred Hitchcock. O
filme era Topázio, uma história de espionagem, e Eva teve tratamento de estrela
ao ser testada para o papel da espiã cubana, que, no final, foi interpretado
por uma alemã, Karin Dor. A experiência foi importante porque, com outros
trabalhos no teatro, mostrou que a doçura estava sendo substituída por uma
dimensão mais madura e complexa.
Nem Eva nem Wilma - Simplesmente Vivinha, como no título de um programa em que interpretava a si mesma, em 1975. Vivinha nunca parou de fazer principalmente TV, e novelas, algumas séries. Roda de Fogo, O Direito de Nascer, Plumas e Paetês (explorando sua veia cômica), Ciranda de Pedra, Guerra dos Sexos, Sassaricando, Pedra Sobre Pedra, Anos Rebeldes, Pátria Minha, O Rei do Gado, A Indomada, Os Maias, Fina Estampa, A Grande Família, Verdades Secretas. Casada por 21 anos (1955/76) com John Herbert, separou-se dele para viver mais 23 anos, de 1979 a 2002, até a morte do segundo marido, Carlos Zara. Socialite, trambiqueira, mulher comum. Eva Wilma, a Vivinha, tudo fez, e com o maior brilho. [2]Em 1973, interpretou as gêmeas Ruth e Raquel, de Mulheres de Areia, novela de Ivani Ribeiro que fez sucesso nacional e internacional. Finalista para o prêmio de melhor atriz do ano, perdeu para Regina Duarte, por Carinhoso. Quem viu não se esquece jamais. A premiação era ao vivo, apresentada por Sílvio Santos na Globo. Perante o País inteiro, Regina, a namoradinha do Brasil, chamou Eva Wilma para receber o prêmio, que era dela por direito. O episódio resume a grandeza de uma artista que colegas, público e críticos aprenderam a amar e respeitar.
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