No sábado, 22, eu e meu marido Adalberto estávamos indecisos se iríamos ou não ao Shopping Neumarkt, em Blumenau . A nossa idéia era dar um rápido passeio e ver as novidades de Natal. Como chovia muito decidimos acompanhar os acontecimentos de casa e só mais tarde nos dirigir ao Shopping. A tarde veio a notícias inesperada que o Shopping havia sido invadido pela lama, por causa de um deslizamento ao lado do prédio, fazendo com que os responsáveis do mesmo, providenciassem a evacuação imediata. Segundo relatos, todos entraram em pânico, pois não sabiam realmente o que estava acontecendo.
De casa, ficamos monitorando a rua Progresso que fica em frente a nossa residência, pois o morro daquela rua ameaçava desabar. Havia necessidade de avisar as autoridades imediatamente, já que carros poderiam ser tomados pelo barro e residências poderiam ser alagadas, pois o barro poderia contribuir com isso, se atravessasse a rua e caísse no rio. E isso realmente aconteceu.
O terror começou no domingo à tarde. Eu estava observando a chuva que corria intensamente, quando vi o morro desabar em poucos segundos. Pessoas que assistiam o deslizamento sumiram junto com o morro. Eu apenas consegui tirar as fotos por que estava com a câmera direcionada para o deslizamento que nem de longe imaginaria tal magnitude do desastre que estava por vir. Ondas de três a cinco metros invadiram as residências em frente a nossa casa. O desespero das famílias era grande e nada podíamos fazer apenas olhar para a tragédia. E assim seguiu a tarde e a noite inteira, em verdadeira sentinela. Postes de alta tensão eram engolidos pela lama e sumiam pelo rio. Nós e os vizinhos ficamos em vigília durante a noite toda, pois não tínhamos energia e no escuro só podíamos ouvir o morro caindo, galhos quebrando e pessoas pedindo socorro.
No domingo, (23) eu e meu marido fomos ver os estragos. Passamos por uma “pinguela” (ponte pênsil) e apesar do rio cheio decidimos ir adiante e avistamos árvores caídas, desbarrancamentos e muito sofrimento. Na segunda-feira, (24) , esse meio de acesso (a ponte) já não existia mais, apenas tínhamos o registro fotográfico, pois ela caiu pela força das águas do domingo a noite.
A nossa rua, Julio Heiden, que fica no Bairro Progresso, era uma alternativa de acesso depois que houve a queda da barreira na rua Progresso. Mas simultaneamente caiu casas, desceu morros, sumiram mais de 200 metros de rua. Ficamos isolados. Todos os moradores da Rua Rui Barbosa, Jordão, Progresso e até da localidade das Minas de Prata, ficaram sem acesso, totalmente isolados.
Outra alternativa de acesso era através da rua Progresso pela rua Germano Roeder (Associação Artex), mas a ponte caiu nas cabeceiras. Não tendo acesso para a circulação e a passagem de veículos, somente de forma precária através de motos ou a pé, em busca de alimentos e água.
O cemitério da Rua Progresso houve muito deslizamento, túmulos foram jogados na Rua Progresso. Outros túmulos foram soterrados a exemplo do túmulo de meu sogro.
A rua Emilio Tallmann também sem acesso, pois além de barreiras encontramos casas destruídas, todos ilhados sem ter como sair do bairro.
No domingo, 23 ainda havia possibilidade de ver os estragos na rua Amazonas perto da portaria da Industria COTEMINAS, na rua que dá acesso ao terminal do Garcia. A tragédia estava por vir ainda. Duas horas após a nossa caminhada, desceu uma tromba de água da Rua Brusque onde destruiu muitas casas e invadiu outras tantas. Pessoas que encontramos em nossa passagem comentavam que ainda bem que não tinha chegado água na casa deles, mas duas horas depois amargavam a lama e a destruição em seus lares.
Tânia Regina Moraes, assistente social da ABLUDEF, colega de serviço, preparou a máquina digital para o final de semana, pronta para registrar fotos de seu sobrinho Lucas que poderia nascer a qualquer momento. Registrou fotos de tragédias no alto do morro conhecido como “MORRO DO CENTENÁRIO”, por causa da Soc. Recreativa Centenário, continuidade da Rua Emilio Tallamann, Rua Osasco, e da famosa Ponte do Centenário, que também foi tragada pelas águas do rio Garcia. Tânia enviou fotos para minha casa, via Florianópolis onde minha filha colocou no blog, pois ficamos quatro dias sem energia, consequentemente sem acesso a internet.
Alegria foi para nossa comunidade que na manhã do dia 25 de novembro,terça feira, um mês antes da chegada do “PAPAI NOEL”. Vimos com alegria à chegada das máquinas para obstruir o morro. Os caminhões da CELESC trazendo um bem precioso que foi a energia, estavam carregados de postes, transformadores e fios. Estávamos quatro dias sem energia, somente assim percebemos o quanto é valioso a energia, a água potável. Um pequeno “mosquitinho” que logo se transformou num grande “helicóptero”, trazendo soldados, médicos, alimentos, água. Mostrando que havia uma corrente de solidariedade sendo formado em nosso redor, e que não estávamos abandonados. Agradecemos esses heróis que incansavelmente estiveram e ainda estão salvando vidas .
Hoje, quarta-feira (26) o quadro da minha localidade está assim, houve a abertura da Rua Progresso, mais precisamente uma “picada”, onde passam pessoas em moto, ou a pé. Somente passa 01 carro quando á necessidade de levar socorro. Existem muitas pessoas ilhadas em meu bairro, pois não há como tirar a enorme quantidade de barro e casas destruídas. A energia ainda esta precária e em algumas localidades não existem ruas, pois sumiram levando postes e transformadores. Existe o fantasma da chuva nestes próximos dias, atualmente Blumenau tem 4.500 desabrigados que estão distribuídos nos 54 abrigos montados nos 35 bairros existentes na cidade. Temos confirmados 20 mortos e muitos desaparecidos. A maior preocupação além de abrigar essas pessoas, são as moradias que estão em risco e algumas estão desmoronando a cada instante. Temos urgência de água potável, alimentos, roupas, pois o povo blumenauense esta momentaneamente fragilizada, mas como temos exemplos de outras tragédias nosso lema é “BLUMENAU NÃO PODE PARAR”. Hoje não posso atuar, pois continuo ilhada sem acesso a outras localidades. Minha unidade de trabalho no momento esta desativada, não foi atingida pelas águas, mas não tem acesso ainda. A Abludef esta localizada numa transversal da rua Araranguá, onde houve a primeira vítima desta tragédia, a pequena Luana de 3 anos. A menina Luana Eger, de 3 anos, foi a primeira vítima desta tragédia em Blumenau. No dia 22 de novembro foi soterrada junta com sua casa. Sua mãe Virgínia e seus dois irmãos Juan de 7 anos e Rafael de 5 anos, escaparam da tragédia. Seu pai Evandro estava fora da cidade, restando a ele o consolo de comprar o vestidinho cor de rosa, para seu funeral, cor preferida da pequena Luana.
Fotos Marcos Porto/Ag. RBS, Moacyr Lopes Júnior/Folha Imagem e Fernando Donasci/Folha Imagem
Temos que exercitar neste Natal a nossa solidariedade ao povo de Santa Catarina.
Doe seu coração, precisamos de vocês.
texto: Dalva Day
Fotos: Adalberto e Dalva Day/ Tânia Regina Moraes e Francisco Assis
Um comentário:
boa noite.
tenho uma duvda que me foi esclarecida a respeito das casas ou aptos que a prefeitura de blumenau estao preparando para os que perderam suas casas nos desmoronamento de novembro ultimo.
minha casa, era uma casa boa de alvenaria , com 3 quartos sala cozinha, 2 banheiro lavação etc.....
quero saber, se terei uma casa
no valor da que tinha? como será o modelo da casa ou apto que o governo pretende nos dar?
se vc puder me esclarecer algo a respeito, ou me dar outras direções que terei que tomar , eu lhe agradeço. fico no aguardo de uma resposta.
jean mello
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