“Não, não, a
morte não é algo que nos espera no fim. É companheira silenciosa que fala com
voz branda, sem querer nos aterrorizar, dizendo sempre a verdade e nos
convidando à sabedoria de viver.” (Rubem Alves)
Nada é mais
inevitável que a morte, talvez a única certeza que temos. Mais cedo ou mais
tarde, temos que lidar com a perda de um ente querido, sua repentina ausência
em nossa rotina diária e normalmente, não estamos preparados para enfrentá-la.
O luto envolve
diversas fases que devem ser desenvolvidas recebendo o suporte e apoio
necessário para que possamos superar e conviver da melhor forma possível com a
dor da saudade.
Todavia, os
cuidados devem ser redobrados quando se trata de uma pessoa de meia idade,
pois, com o passar do tempo, há uma série de fatores presentes como às perdas
significativas, o surgimento de doenças crônicas deteriorando a saúde, a
ausência de papéis sociais valorizados, o isolamento e dificuldades financeiras
decorrentes da aposentadoria. Tais mudanças afetam muito a auto-estima. E se
for somado a isso a viuvez e a perda de amigos próximos, poderá desencadear uma
crise, há uma tendência maior ao desenvolvimento de uma depressão ou a um
isolamento ainda mais significativo.
De acordo com
pesquisadores, no luto estão presentes diferentes fases. Na primeira, a pessoa
vive o desespero, a raiva e a aflição. Em seguida, vem a saudade e o desejo
intenso de estar na presença da pessoa que partiu. Com o passar do tempo,
aquele que ficou começa a se sentir desorientado, pois percebe que a vida já
não é a mesma. Um forte sentimento de tristeza, apatia, lamentação e falta de
sentido na vida toma conta do indivíduo, e caso esta etapa não seja superada, a
pessoa pode sucumbir à depressão. Por fim, caso a pessoa tenha ajuda (seja de
amigos, familiares ou profissionais) para enfrentar a angústia do momento
anterior, ela pode, por fim, atingir a fase de organização e readaptação à
rotina, sentindo novamente prazer em viver.
Normalmente, a
situação de viuvez é vivenciada mais entre as mulheres, que têm uma expectativa
de vida maior que a dos homens. Um estudo realizado pelo autor Lopata,
identificou três fases no processo de perda para as mulheres.
Na primeira
fase, tem-se a tristeza profunda pela perda. Nesta fase é importante desatar os
laços com o marido e transformar em lembranças todas as experiências
compartilhadas. É importante encorajar a mulher a falar sobre seus sentimentos
e emoções referentes a esta perda para que o luto possa ser desenvolvido.
A segunda
fase, normalmente, vem após um ano e caracteriza-se pela atenção à nova rotina,
para o funcionamento das tarefas domésticas. O grande problema é a consciência
de estar fisicamente sozinha, sem o companheiro. Nesta fase, faz-se necessário
o apoio de amigos, familiares e psicólogos que auxiliem no processo.
Dentro de um
ou dois anos, tem-se a terceira e última fase que é o reinício do interesse
pelos outros e para novas atividades.
A forma como o
idoso vai lidar com a viuvez vai depender dos recursos que ele tiver tanto
internamente, como a coragem e a criatividade, quanto externamente, com a
possibilidade de tratamentos, apoio e proximidade de amigos e familiares.
Durante o período de luto, é normal pessoa encontrar-se em um estado de
vulnerabilidade física, podendo apresentar uma gama de transtornos físicos e
emocionais, em decorrência de sua fragilidade. Por isso, é importante que ela
procure manter uma rotina de cuidado consigo mesma, o que inclui o exercício
físico freqüente, um sono de qualidade, uma alimentação balanceada, e a
dedicação a tarefas prazerosas.
É interessante
que o idoso, além de receber a ajuda de amigos e familiares, também faça parte
de um grupo que seja uma referência para ele, com encontros regulares e
interesses em comum a serem compartilhados. Desta forma, o grupo pode vir a
auxiliar e facilitar as modificações e transformações pelas qual o idoso está
passando, além de servir de suporte nas horas mais difíceis.
Vale lembrar
que para aqueles que convivem com alguém que perdeu o companheiro ou
companheira, o importante é saber compreender o momento da dor da viuvez. Saber
ouvir, respeitar o silêncio e se fazer presente quando necessário fazem toda
diferença.
Para aqueles
que estão sofrendo com a viuvez, é importante que não desistam da vida, que não
se isolem ou deixem de procurar apoio para este momento tão difícil. É preciso
passar pelas fases do luto e transformar a dor da saudade em lembranças boas da
história que foi compartilhada e vivida.
“Quando
fizermos todos os trabalhos que foram enviados a Terra para fazer, temos
permissão para deixar nosso corpo que aprisiona a nossa vida como um casulo
encerra a futura borboleta [...] voltando para casa, para Deus, para um lugar
onde nunca estamos sozinhos, onde continuamos a crescer, a cantar e a dançar;
onde estamos com aqueles que amamos ( que deixaram seus casulos antes de nós);
e onde estamos cercados de mais amor do que você jamais pôde imaginar.”
(Kubler-Ross)
Milena
Francener Deschamps
Psicóloga CRP
– 12/05293
Especializando-se
em terapia familiar
Contato:
milena_psicologia@hotmail.com
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