A
Assembleia Geral das Nações Unidas, em
1993, instituiu a comemoração do Dia
Mundial da Imprensa em 13 abril uma
forma de salientar a sua importânciano
mundo contemporêno. Numa época de
globalização da informação e da comunicação é importante relembrar os
primórdios da imprensa e como teria sido inimaginável sem a tipografia (do
grego typos — “forma” — e graphein — “escrita”). Recuamos, por isso, à primeira metade do século XV e ao inventor alemão Johannes Gutemberg
apesar das evidências de que o holandês Laurens Coste iniciou a impressão de
livros com a utilização de carateres móveis de madeira, alguns anos antes de
Gutenberg, razão pela qual é g 1considerado, por muitos, como o pai da
imprensa.
Deve-se, no entanto, referir o mérito de inventores chineses que já
conheciam o papel desde o século II e prensas de madeira onde gravavam textos e
imagens desde o século VIII e tipos móveis no século XI. Jikji , ensinamentos
sobre o budismo, foi o primeiro livro impresso com carateres móveis metálicos , em finais do século XIV, na
Coreia. Estas técnicas eram desconhecidas na Europa e, independentemente da
polémica, é seguro que Gutenberg que tinha aprendido o ofício de ourives e que
foi aclamado durante a Revolução Francesa como “primeiro revolucionário e
benfeitor da humanidade” utilizou um método com carateres móveis que veio a
revolucionar a cultura europeia. Inventou a tinta de impressão para papel e
pergaminho misturando fuligem, resina e
óleo de linhaça e criou um processo que consistia em cunhar as letras em
matrizes de cobre, com uma punção de aço com letras gravadas em relevo, gerando
uma espécie de molde de letras, que eram finalmente montadas em uma base de
chumbo, onde recebiam a tinta e eram prensadas no papel. Para a feitura da
prensa gráfica (termo de imprensa deriva deste equipamento) Gutenberg inspirou-se nas prensas utilizadas para
espremer uvas da região de Mongúcia, g
3Alemanha, de onde era natural.
Este
método permitiu a obtenção de carateres precisos e resistentes ao desgaste da
impressão e veio substituir o moroso trabalho dos copistas que tornava os
dispendiosos livros autênticas obras de arte que implicavam materiais como o
couro paara a encadernação assim como tecidos bordados. O primeiro exemplar
deste método revolucionário foi a Bíblia de 42 linhas, em latim, de cuja edição
existem 48 exemplares. Esta técnica propagou-se rapidamente nas cidades universitárias e comerciais,
nomeadamente Veneza e Paris e, em pouco tempo, as tipografias espalharam-se
pela Europa, tornando os livros mais acessiveis e democratizando um saber
“erudito”, que deixa de ser exclusivo do clero. Em 1539, a primeira tipografia
chega ao continente americano com o alemão
Johann Cromberger. Em Portugal o primeiro impresso saiu da oficina de D.
Samuel Porteira Gacon, judeu que tinha fugido das perseguições da Inquisição em
Espanha e que se estabeleceu em Faro. O único exemplar desta edição , em
hebraico, O Pentateuco encontra-se na
British Library , em Londres. Não há
consenso no que respeita às obras
impressas em português e a disputa faz-se entre O Sacramental de
Clemente Vercial de 1488 e Tratado de Confissom de 1489, impresso em Chaves com
um único exemplar na Biblioteca Nacional, em Lisboa. Esta invenção teve um
enorme alcance revolucionando o
conhecimento com o desenvolvimento das línguas nacionais, cultura e ciência. Os
valores da modernidade difundiram-se, o racionalismo, o individualismo, o gosto
pelo saber, a importância dada à observação são as bases da nova g
2mentalidade. Numa fase inicial, a
Igreja Católica apoiou esta invenção e, sinal disso, é o facto da maior parte
das primeiras obras impressas tratarem temáticas religiosas, embora em latim,
nomeadamente a Bíblia, que se tornara
mais barata por meio da sua reprodução tipográfica.
Porém, ao tomarem
consciência do alcance deste novo recurso, os impressores enfrentaram alguns
riscos, tendo sido perseguidos pela Inquisição. A proibição da tradução da
Bíblia para as línguas nacionais não
impediu a sua tradução para o inglês e impressão em Antuérpia, em 1521, tendo o seu
tradutor, o sacerdote inglês William Tyndale, sido queimado na fogueira
por isso. No século XVI, os tipógrafos jornaleiros tinham um horário de
trabalho de 16 horas diárias, o que desencadeou algumas greves, particularmente
em França. Em 1695, a Inglaterra acabou
com a lei que regulava as suas atividades e em 1791 a Primeira Emenda à
Constituição Americana proibia qualquer lei que limitasse a liberdade de
imprensa. A 1ª publicação impressa periódica regular aparece em 1602 em
Antuérpia e o 1º jornal em português em 1641 com o nome Gazeta da Restauração.
No século XIX, com a industrialização,
aparecem as primeiras agências de notícias e em 1851 Paul Julius Reuter funda a Reuters. O
telégrafo, técnicas de impressão, emissão de rádio, cinema e tv revolucionaram
as tecnologias de informação e comunicação já no seéc. XX. Um forma de
reconhecer a importância da imprensa e enaltecer o direito fundamental que é a
liberdade de expressão é visitar espaços
que dignificam a “ arte negra” e o valor da imprensa. O Museu Nacional
da Imprensa, Jornais e Artes Gráficas, no Porto, apresenta, desde 1997, exposições permanentes e temporárias sobre
esta temática. De igual modo, é estimulante conhecer o Espaço
Memória-Tipografia Popular do Seixal, extensão do Ecomuseu Municipal,
localizada no Núcleo urbano antigo do Seixal em instalações remodeladas de uma
oficina tipográfica tradicional, empresa familiar estabelecida naquele local
desde os anos 50 do século XX. A
visita guiada orientada por um
excelente pedagogo, antigo tipógrafo, transmite, de forma cativante, memórias,
saberes e curiosidades ligadas a esta arte à volta de peças de elevado valor
patrimonial pois preservam as artes da composição, impressão e encadernação destacando-se as de impressão de finais do
século XIX e primeira década do século XX e as primeiras impressora
introduzidas em Portugal. Visitar estes espaços museológicos é, por isso, uma
excelente oportunidade para relembrar as origens da tipografia e a sua evolução,
de refletir sobre os meios de difusão de notícias e fazer uma viagem no tempo
em volta das máquinas que tanto contribuíram para a evolução da humanidade. Luísa
Oliveira
https://bibliblogue.wordpress.com/2013/04/13/13-de-abril-dia-mundial-da-imprensa/
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