As origens do Material Bélico (Mat Bel) remontam ao
Brasil Colônia, quando aqui se procurou organizar uma estrutura embrionária de
manutenção para os equipamentos das forças militares. Não existiam
estabelecimentos fabris, o que acarretou grandes dificuldades para as atividades
de manutenção e suprimento das armas e demais petrechos de guerra. Nesse
contexto, em 1762, na Capitania do Rio de Janeiro, foi fundada a primeira
unidade específica de material bélico, a CASA DO TREM. Esta denominação provém
da expressão portuguesa “Trem de Artilharia”, que compreendia todo o material
bélico utilizado pelas tropas.
No brasão de armas da Casa do Trem, estavam
sobrepostos dois canhões coloniais cruzados, os quais, até hoje, são ostentados
orgulhosamente pelos matbelianos em seus uniformes, como guardiões de uma
tradição de mais de dois séculos.Com a vinda da Família Real, novas medidas
foram implementadas por determinação do Príncipe Regente D. João. Em 1810,
criou-se a Companhia de Artífices, que passou a formar mão de obra especializada
para o Arsenal Real, em substituição aos soldados que, até então, eram oriundos
dos Regimentos de Artilharia. Em 1811, D. João mandou criar a Real Junta de
Fazenda dos Arsenais, Fábricas e Fundição da Capitania do Rio de Janeiro,
nomeando seu primeiro presidente o Tenente-General Carlos Antônio Napion, que
já havia exercido cargo semelhante em Portugal. O Tenente-General Carlos Antônio Napion nasceu em Turim (Itália), em 30 de outubro de 1757. Sua história confunde-se com os primórdios do Material Bélico no Brasil. Em 1800, após a conquista da Itália por Napoleão, o Ten Gen Napion passou a servir ao Reino de Portugal, vindo para o Brasil em 1808, na comitiva da Família Real.
Aqui
chegando, foram-lhe atribuídas múltiplas e difíceis missões ligadas à defesa e
à implantação da indústria e do ensino militar superior. No setor de Material
Bélico, criou e dirigiu a Fábrica de Pólvora da Lagoa e o Arsenal Real do
Exército, origem do atual Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro. Foi também
Inspetor Geral de Artilharia, aprimorando a estrutura das fortalezas da Colônia
e ampliando a Real Fábrica de Armas da Conceição. Tais organizações foram as raízes da estrutura de Material Bélico no Exército Brasileiro. Como presidente da Junta Militar da Academia Real Militar, criada por D. João, em 1810, coube ao Ten Gen Napion organizá-la e dirigi-la, fato este que lhe conferiu o privilégio de ter sido o primeiro comandante das Academias Militares em terras brasileiras e ter o seu nome em primeiro lugar na galeria de ex-comandantes da Academia Militar das Agulhas Negras, permanecendo nesta função até a sua morte, em 27 de junho de 1814.
O precioso legado de suas profícuas realizações
tornou-o merecedor do reconhecimento da Instituição e do País, que o consagrou
Patrono do Quado de Material Bélico. Após a independência, novos arsenais foram
construídos no Rio Grande do Sul, na Bahia e em São Paulo, os quais, juntamente
com o “Trem de Mato Grosso”, incumbiram-se de realizar, naquelas regiões, as
atividades do apoio de Material Bélico. Espingardeiros, coronheiros e
artífices disseminavam, assim, as
tradições que o matbeliano de hoje trabalha por honrar. A Guerra da Tríplice
Aliança representou o ponto alto da atuação dos arsenais e fábricas no século
XIX. Afora a deficiência de suprimentos, o então Marquês de Caxias deparou-se
com a precariedade do material bélico existente.Em sua preparação para a arrancada vitoriosa, o invicto General reequipou a Infantaria e a Cavalaria, bem como dotou a Artilharia com novas peças, fabricadas, em sua maior parte, no País, a fim de reduzir ao máximo a dependência da importação de armamento e munição, indispensáveis às operações de guerra. Durante a República, em 1915, instituiu-se, no Exército Brasileiro, o Serviço de Material Bélico e, três anos depois, foi inaugurado, no Rio de Janeiro, o Depósito Central de Material Bélico, com a missão de estocar o armamento e a munição da então denominada Diretoria de Material Bélico.
O Estado-Maior do Exército criou, na década de
1930, a Seção de Motomecanização. Em 1938, os blindados Renault, adquiridos na
década anterior, foram substituídos pelos carros Ansaldo, de fabricação
italiana, que passaram a mobiliar o recém-criado Esquadrão de
Autometralhadoras. Mais tarde, tornou-se o Centro de Instrução de Motorização e
Mecanização (CIMM), primeiro centro de instrução de Material Bélico. Em 1942, o
CIMM transformou-se em Escola de Motomecanização, sob o comando do então
Tenente-Coronel Artur da Costa e Silva, futuro Presidente da República. Durante
a Segunda Guerra Mundial, implementou-se a 1ª Companhia Leve de Manutenção,
integrante da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária, a qual foi organizada em
três pelotões: o de suprimentos, o de evacuação e reparação auto e o de
reparação de armamento, além de uma seção de comando. Fruto das experiências colhidas na campanha da Itália, o Exército reformulou seu apoio de Material Bélico, criando, em 1946, batalhões de manutenção e companhias de manutenção leves, médias e especiais. Como consequência natural de toda essa evolução, em 1959, foi criado o mais novo componente operacional do Exército, o Quadro de Material Bélico. Sua lei de criação estabelecia que o Material Bélico tivesse as seguintes finalidades: “Reunir, num só quadro, todos os oficiais que exerçam funções relativas à pesquisa, estudo, fabricação, recuperação, armazenamento e manutenção de material bélico: armamento, munições e explosivos, material de guerra química, instrumentos e equipamentos de observação e direção de tiro, viaturas, combustíveis e lubrificantes;
Prover as necessidades em pessoal especializado
para o exercício de funções de direção, chefia e comando e execução em órgãos
da alta administração do Ministério da Guerra, diretorias incumbidas do
suprimento, manutenção e fabricação de material bélico, serviços dos grandes
comandos, fábricas, arsenais, parques e depósitos, bem como unidades de
manutenção.” Em 1986, com a aprovação pelo Estado-Maior do Exército do manual
de campanha C 9-1 – Emprego do Material Bélico, definiu-se a doutrina de
emprego até hoje vigente, atribuindo-se ao Quadro, desde então, missões de
combate, de apoio ao combate e de apoio logístico. As missões de combate
consistem no seu emprego como arma base e englobam a defesa de seus locais de
trabalho, a sua própria proteção em marchas e estacionamentos, as ações
preventivas e repressivas como integrante de forças de segurança de área de
retaguarda e, mesmo, o seu emprego como infantaria em situações excepcionais de
combate. As missões de apoio ao combate compreendem a destruição e remoção de
granadas e bombas, as informações e a assistência técnica, a defesa química,
biológica e nuclear, as inspeções e o estabelecimento de normas técnicas. As
missões logísticas, razão inicial da criação do Material Bélico, são cumpridas
por meio de atividades de suprimento e manutenção dos materiais de defesa, da
coleta e evacuação do material salvado e capturado; em situações peculiares,
essas missões poderão incluir o transporte de material de defesa. Em síntese,
cabe ao Material Bélico assegurar o apoio cerrado e contínuo, que confere o
poder de fogo e a mobilidade ao Exército Brasileiro. O renascimento da Aviação
do Exército e as recentes operações de manutenção de paz têm demonstrado que,
sem um eficiente apoio de Material Bélico, tais missões ficam seriamente
comprometidas. Sendo assim, com as perspectivas de o Brasil se firmar cada vez
mais como uma liderança no cenário internacional, aliado ao fato de o País
possuir uma das maiores reservas de biodiversidade do planeta, cresce em
importância a aquisição, por parte do Exército Brasileiro, de modernos
materiais de defesa capazes de garantir a operacionalidade da tropa em ambientes
de combate com características
assimétricas. Nesse sentido, os integrantes do Quadro de Material Bélico
vêm buscando seu constante
aperfeiçoamento, a fim de esdtar à altura dos novos desafios advindos do
combate moderno.
http://www.defesanet.com.br/terrestre/noticia/8395/30-de-Outubro---Dia-do-Quadro-de-Material-Belico
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